CINZAS DE RATO

Eu era só um rato
roendo as bordas do esgoto
correndo do frio, da fome,
do barulho.

eu era um rato amarelo
eu fedia mais que o queijo
estragado que eu
tanto desejava.
corria pelos trilhos que
levavam meus
semelhantes à
morte
outros ratos
iguais a mim,
ao meu
pai.

eu caí e não morri.
vivia em buracos que nunca
imaginei caber.
não dormia
-eu não podia-
meus pés não me sentiam
eu já nem sabia
porque queria
viver.

deitei no chão e
olhei para
Deus.
o Senhor é da SS?
por acaso sou eu o teu inimigo?
não fui respondido
-e nem seria-
eu não era um gato
e nem queria
ser.


Ana Kalline

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